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POLUIÇÃO ORBITAL
POLUIÇÃO ORBITAL

Poluição Orbital

Um novo relatório da Agência Espacial Europeia revela que já existem mais de 170 milhões de destroços de objetos na órbita da Terra.

Por Eduardo Araia
 
 
 
Poluição OrbitalDivulgação
 
 

Até 1957, quando o pioneiro satélite soviético Sputnik foi lançado ao espaço, as redondezas orbitais da Terra eram tão limpas quanto as águas de um rio livre da ação humana. Cinquenta e seis anos e quase 5 mil lançamentos espaciais depois registra-se em torno do planeta uma quantidade tão grande de aparelhos, de pedaços e de fragmentos deles, que ações urgentes já são necessárias, alertam especialistas da Agência Espacial Europeia (ESA).

 

A estação americana Skylab antes de cair, em pedaços, entre 1973 e 1979, perto de Perth, na Austrália.

 

A 6ª Conferência sobre Lixo Espacial, realizada em abril em Darmstadt, na Alemanha, anunciou que quase 29 mil objetos de comprimento maior do que dez centímetros – pedaços de satélites desativados, restos de foguetes, ferramentas deixadas por astronautas – estão girando ao redor da Terra, a uma velocidade média de 25 mil quilômetros por hora, quase 28 vezes a velocidade de um jato comercial. Já o número de escombros entre dez centímetros e um milímetro superaria 170 milhões, de acordo com a ESA.

Nessas condições, fragmentos pequenos podem perfeitamente danificar – e até destruir – espaçonaves e satélites em funcionamento. Para piorar o quadro, a movimentação desses dejetos pode causar impactos em série, multiplicando o número de detritos ao redor da Terra. O prejuízo, no fim das contas, é sério: as comunicações e os sistemas de navegação que dependem de satélites podem ficar comprometidos. O custo de substituir os atuais mil artefatos ativos em órbita é estimado em cerca de US$ 130 bilhões.

 

Pedaço do tanque de combustível do foguete americano Delta 2, caído em 2000, numa fazenda perto de Cape Town, na África do Sul.

 

Para consolo dos astronautas, o problema não os afeta muito, pois a maior parte do lixo está situada entre 880 km e 1.000 km de altitude, em órbitas polares, as áreas que concentram vários satélites de observação. A Estação Espacial Internacional, por exemplo, gira ao redor da Terra a 400 km de altura, e os ônibus espaciais aposentados pelos americanos chegavam a no máximo 600 km acima da superfície do planeta. Mesmo assim, a cada ano a Estação Espacial Internacional deve fazer pelo menos uma manobra para evitar o risco de colisão com um desses escombros. De acordo com a ESA, a cada semana uma dúzia de objetos se aproxima a menos de dois quilômetros de um satélite.

Crescimento retomado
Se nenhuma ação corretiva for tomada, o lixo espacial tende a voltar para a Terra, pela ação da gravidade, e ser destruído no atrito com a atmosfera. No entanto, quanto mais alto ele estiver, mais demorado será esse retorno, e a velocidade que de senvolve pode tornar esse tempo ainda maior. Alguns especialistas estimam que vários objetos poderão passar milhares de anos em órbita. Por enquanto, a destruição de lixo pela atmosfera contrabalança a geração de novos escombros. Em 2055, entretanto, mantendo-se o atual ritmo de lançamento de objetos espaciais e de fragmentação dos que estão em órbita, a quantidade de detritos voltaria a aumentar. Com isso, o risco de batidas em órbita poderia ser multiplicado por 25, de acordo com os cálculos das agências espaciais.

“Dentro de algumas décadas poderá haverá colisões entre grandes objetos que criarão fragmentos capazes de fazer estragos posteriores”, afirma Heiner Klinkrad, chefe do Escritório de Escombros Espaciais da ESA. “A única maneira de evitar isso será subir lá em cima e removêlos. Quanto mais você esperar, será mais difícil e muito mais caro resolver o problema.”

 

 

De acordo com a ESA, cerca de dois terços dos pedaços conhecidos de lixo espacial foram criados por explosões em órbita ou colisões. Dois episódios exemplificam essas possibilidades. Em 2007, a China destruiu intencionalmente um de seus velhos satélites meteorológicos, convertido em mais de 2.500 pedaços de lixo espacial. Dois anos depois, um satélite militar Cosmos, da Rússia, já desativado, e um satélite de comunicações Iridium, dos Estados Unidos, colidiram a mais de 4.200 quilômetros por hora, num acidente que despedaçou as duas naves e originou mais de 2 mil destroços, dispersados em diferentes velocidades e trajetórias ao redor da Terra.

Casos como esses mostram aos pesquisadores e operadores de satélites a urgência de se lidar com a sustentabilidade no espaço, mas deve-se reconhecer que a preocupação com o tema já existia na década anterior. Ainda em 1995, a Nasa, agência espacial norte-americana, lançou uma série de diretrizes de mitigação do lixo espacial, ampliadas dois anos depois pelo governo dos EUA. Na sequência, a ESA, a Rússia e o Japão, passaram a estabelecer suas próprias políticas para o assunto.

Em 2002, depois de um esforço que consumiu alguns anos, o Comitê de Coordenação de Escombros Espaciais Inter-Agências definiu por consenso um conjunto de orientações destinadas a mitigar o crescimento da quantidade de lixo espacial em órbita. Com algumas mudanças, elas estão presentes no plano multianual preparado em 2007 pelo Subcomitê Científico e Técnico do Comitê das Nações Unidas sobre Usos Pacíficos do Espaço Exterior, endossado pela ONU em janeiro do ano seguinte.

Remoção obrigatória
A conferência de Darmstadt reiterou a premência do problema várias oitavas acima, e os especialistas apontaram dois caminhos básicos para lidar com ele. O primeiro é fabricar foguetes que limitem a quantidade de destroços gerada em um lançamento, uma providência que já está sendo tomada pelos principais programas espaciais. O outro, bem mais complexo, é dar uma destinação adequada ao que já está lá em cima.

“Medidas de mitigação do lixo especial, se forem implementadas apropriadamente por projetistas de satélites e operadores de missão, poderão restringir a taxa de crescimento da população de escombros”, afirma Klinkrad. “Mas a remoção ativa de fragmentos tem-se mostrado necessária para reverter o aumento de lixo.” O diretor de voos espaciais humanos e diretor da ESA, Thomas Reiter, reforça a afirmação: “Como uma agência de tecnologia e operações espaciais, a ESA já identificou o desenvolvimento das tecnologias de remoção ativas de lixo orbital como um objetivo estratégico.” Os pesquisadores consideram que, para estabilizar a situação, é necessário retirar de órbita de cinco a dez fragmentos grandes por ano.

 

 

O assunto induz à cooperação entre agências espaciais na pesquisa sobre o lixo espacial. O programa Clean Space, lançado em 2012 pela ESA, é dedicado especificamente a desenvolver tecnologia para remover os detritos de forma segura. De acordo com Klinkrad, estão sendo estudados diversos métodos de recolher o lixo, como o uso de redes e arpões, feixes de laser, braços mecânicos, pinças gigantes, pacotes de propulsão ou explosivos para mudar a trajetória dos destroços.

Mas qualquer decisão a esse respeito, assim como a maneira de pagar a conta (previsivelmente salgadíssima) pelo método escolhido, só será definida a partir de um grande consenso. “Como essa é uma tarefa global, a remoção ativa é um desafio que deveria ser assumido por esforços de cooperação com as agências espaciais do mundo e a indústria”, ressalta Reiter.

Nessas condições, os especialistas acreditam que a primeira missão de faxina orbital não será realizada antes de 2023.

 

Planeta/Edição VidaNews